20160525

O ANDARILHO

antes fosse o andarilho da noite
a desvendar mistérios que não se desvendam
e esculpe na areia dos passos
agonia de emaranhar o coração

antes fosse o andarilho da noite
vexame de virar bandido e sumir
na memória do medo que me alucina

antes fosse o andarilho da noite
e não me ardesse em chamas de vadiagem

20160314

Curral Hell Rey

Continuar
Horrendamente um
Horrorosamente um 
Continuar eu um
Um e mais ninguém
Eu um em mim
Minado nas minas gerais
Continuar
Horrendo um danado
Um danado
Horror
Continuar
Horror
Continuar
Horror
Continuar
nu ar nu ar nu ar nu ar nu ar

20160108

ÁGUAS SELVAGENS

Eu chego da geografia do apocalipse
do silêncio da água onde me resisto lascivo à mutação,
asas nos braços e penas nas mãos
patas nas pernas e cascos nos pés.

Eu chego perdido entre a infância e o silêncio,
do mistério trágico da água que corta a espera,
nascente na testa e enchente à margem do nariz
– e a seca tão rude se prolonga e atinge o norte da memória.

Eu chego e espero a légua quebradiça do destino
e dentro de tudo que é faro, me aprisiono na água!

20151118

Meu Avô, Pássaro-boi

As sandálias de couro de meu avô
eram sonolentas de barro e esterco

O barulho amuado plac-ploc, plac-ploc
era afogado pelo canto dos pássaros

As sandálias mutiladas de meu avô
mais pareciam pisadas de boi

E o couro e as sandálias,
medrados entre os pés e o chão

E o barro na insônia,
cedendo caminho aos pés de meu avô,
o mistério que faz o boi acordar

E o meu avô no resguardo de boi,
afogando a terra de barro e esterco
com as couro-asas na manhã,

deixando o barro esverdeado
apagar o barulho amuado,
plac-ploc de boi velho.

20151005

VERDUME

vindos da vertigem dos vendavais
os vaga-lumes vadiam no vaivém
de veros vândalos viris
vestidos de verde vertem veneno nas ventas
varam, de viés, o véu do ventre
e  (madalenas)

as vacas voejam voláteis
vagam a vertente dos ventos
e varrem a volúpia dos viventes,
os vaqueiros

os vadios e viciados em vodca
e (ceres entre cereais)

é venal o vodu da vida
e venial vênus virar vésper

20150711

Não sei quem

não sei quem
não nasceu

nasceu mas
não chorou
o choro vermelho

o pai meteu
as plantas no umbigo.

e a mulher
não sei quem
morreu a caminho do inferno.

20150710

Sunflower

Abri a boca, sem pensar,
Para falar o meu nome
Mas quando abri a boca,
Sem pensar, para falar
O meu nome, esqueci
A boca aberta, sem pensar
Passei a vida assim, sem
Pensar, com a boca aberta
Quando morri assim, sem
Pensar, com a boca aberta
Sunflower
Fecharam a minha boca
Com as mãos do amor eterno.